segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Qual é o sentido da vida?


Marta Antunes Moura
 “Não somente de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai
da boca de Deus.” (Mateus, 4:4.)


Questionamento sobre o sentido da vida acontece em algum momento da existência, mas a resposta à indagação está relacionada a vários fatores, entre eles: idade, nível de maturidade espiritual, educação recebida, formação religiosa, interesses...
A respeito do assunto, esclarece Léon Denis que:
O que importa saber antes de tudo é o que somos, de onde viemos, para onde vamos, quais são os nossos destinos.As ideias que fazemos do Universo e suas leis, do papel que cada um de nós deve exercer sobre este vasto teatro, tudo isso é de uma importância capital. É de conformidade com elas que dirigimos os nossos atos. [...] Para as coletividades, da mesma forma que para o indivíduo, a concepção do mundo e da vida é que determina os deveres; mostra o caminho a seguir, as resoluções a adotar.
Não resta dúvida que esse é o melhor critério, entretanto, sabemos que significativa parte da Humanidade restringe a existência à mera experiência biológica (nascer, crescer, reproduzir e morrer). Para muitos indivíduos o enfoque é a família e/ou a profissão. Os hedonistas preferem gozar a vida, sem pesar as consequências. Mas há pessoas que, efetivamente, centralizam a vida na busca pela melhoria espiritual. Tal constatação nos faz concluir que, a rigor, não há um consenso de respostas, como indicam pesquisas realizadas, uma vez que o entendimento sobre o sentido da vida varia de pessoa para pessoa, estando sujeito a mudanças de opinião, à medida que envelhecemos ou nos tornamos mais experientes.
Denis considera ainda que as indagações sobre o porquê da vida fazem parte da natureza humana:
Qual o homem que, nas horas de silêncio e recolhimento, já deixou de interrogar a Natureza e ao seu próprio coração, pedindo-lhes o segredo das coisas, o porquê da vida, a razão de ser do Universo? Onde está esse que não tem procurado conhecer os seus destinos, erguer o véu da morte, saber se Deus é uma ficção ou uma realidade? Não há ser humano, por mais indiferente que seja, que não tenha enfrentado algumas vezes com esses grandes problemas. A dificuldade de resolvê-los, a incoerência e a multiplicidade das teorias que daí se derivam, as deploráveis consequências que decorrem da maior parte dos sistemas conhecidos, todo esse conjunto confuso, fatigando o espírito humano, o tem atirado à indiferença e ao ceticismo.
Para os filósofos da Antiguidade, o verdadeiro sentido da vida estava na aquisição da felicidade, genericamente considerada “[...] estado de satisfação devido à situação do mundo”, conceito que não deveria ser confundido com o de bem-aventurança, entendido como o ideal de satisfação, ou de felicidade completa, independente das condições do homem no mundo.
A felicidade era então compreendida como algo bem mundano, de acordo com as necessidades imediatas do homem, segundo esta afirmativa do filósofo grego Tales de Mileto (624 ou 625 a.C.-556 ou 558 a.C.): “[feliz é] quem tem corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada”. Em outras palavras, significa dizer que a felicidade se resume em ter boa saúde, sucesso na vida e possuir boa formação educacional, condições priorizadas pela sociedade moderna.
O conceito de felicidade foi mais tarde incorporado ao prazer, possivelmente a partir das ideias de Demócrito de Abdera (460-380 a.C.), que definiu felicidade como sendo “[...] a medida do prazer e a proporção da vida”. Tal concepção serviu de base para o desenvolvimento do pensamento filosófico, em relação ao sentido da vida, nos séculos posteriores. Estudiosos famosos aceitaram a relação felicidade–prazer, imprimindo esta direção ao pensamento ocidental. Entre eles, destacamos: Lorenzo Valla (1407-1457), eminente educador humanista italiano; John Locke (1632-1704), inglês, respeitado ideólogo do liberalismo; Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), distinguido cientista alemão; e o britânico Bertrand Arthur William Russell (1872-1970), uma das personalidades mais influentes do século XX, matemático e lógico de renome.
Importa ressalvar que, desde os tempos remotos, Platão (428 ou 427 a.C.-348-347 a.C.) já fazia clara distinção entre felicidade e prazer, admitindo que uma estava vinculada à aquisição de virtudes, a outra, às sensações físicas: “[...] o mundo dos sentidos e dos prazeres sensoriais inibe o encontro da felicidade verdadeira, porque nos torna presos ao mundo real [físico], que não é [...] a realidade mais elevada”.5
Em termos religiosos, o Hinduísmo relaciona o sentido da vida à harmonia e libertação espirituais, ambas necessárias à comunhão eterna e pacífica com Deus. Para os brâmanes, é atingir o estado de consciência cósmica. O Judaísmo valoriza a observância das leis de Deus, registradas nos seus livros sagrados. O Budismo orienta que o sentido da vida está na liberdade de cada um escolher como conduzir a própria vida. Para o Cristianismo é necessário vivenciar o Evangelho, condição totalmente acatada pelo Espiritismo.
A citação de Mateus, inserida no início deste artigo, pode ser considerada um roteiro espírita sobre o sentido da vida. Interpretada por Emmanuel, destaca este Benfeitor a importância de reconhecermos a extensão e o valor das bênçãos divinas, distribuídas por Deus em nosso benefício. Assim, considera a palavra “pão” (Não somente de pão viverá o homem), presente no texto evangélico, como símbolo representativo das concessões materiais doadas ao encarnado. Pondera, entretanto, que tais dádivas devem ser utilizadas para a obtenção do alimento espiritual (toda palavra que sai da boca de Deus), que é o verdadeiro sustento à vida do Espírito imortal. Eis como se expressa:

Não somente agasalho que proteja o corpo, mas também o refúgio de conhecimentos superiores que fortaleçam a alma. Não só a beleza da máscara fisionômica, mas igualmente a formosura e nobreza dos sentimentos. Não apenas a eugenia que aprimora os músculos, mas também a educação que aperfeiçoa as maneiras.
Não somente a cirurgia que extirpa o defeito orgânico, mas igualmente o esforço próprio que anula o defeito íntimo.

Não só o domicílio confortável para a vida física, mas também a casa invisível dos princípios edificantes em que o espírito se faça útil, estimado e respeitável. Não apenas os títulos honrosos que ilustram a personalidade transitória, mas igualmente as virtudes comprovadas, na luta objetiva, que enriqueçam a consciência eterna.
Não somente claridade para os olhos mortais, mas também luz divina para o entendimento imperecível.
Não só aspecto agradável, mas igualmente utilidade viva.
Não apenas flores, mas também frutos.
Não somente ensino continuado, mas igualmente demonstração ativa.
Não só teoria excelente, mas também prática santificante. Não apenas nós, mas igualmente os outros.
Ao final, conclui com a sabedoria e a simplicidade de sempre:

Disse o Mestre: – “Nem só de pão vive o homem.”
Apliquemos o sublime conceito ao imenso campo do mundo. Bom gosto, harmonia e dignidade na vida exterior constituem dever, mas não nos esqueçamos da pureza, da elevação e dos recursos sublimes da vida interior, com que nos dirigimos para a Eternidade.
Reformador Federação Espírita Brasileira
http://www.febnet.org.br/reformadoronline/pagina/?id=204#

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